O Blog Além dos Olhos foi criado dia 18 de Março de 2012. Seu principal objetivo é descrever situações do cotidiano que algumas vezes passam despercebidas à olhares superficiais, tanto para quem escreve, como para quem lê. Ao entrar aqui, dará vazão à busca pelo entendimento sem se preocupar se irá encontrá-lo ou não. Cada linha rege a harmonia da dança dos nosso dias.
E que não se prenda em seus conceitos para que seja meu leitor, pois aqui não há uma verdade absoluta, encontre o seu sentido parafraseando significados que nascem no seu interior. Reflita, questione, refute, pense além!
Boa Leitura.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

As pílulas que (não) educam



É notório, o despudorado objetivo da indústria farmacêutica em propagar a utilização em massa dos psicofármacos. Com propagandas atrativas e uma sociedade que cada vez mais, exige soluções rápidas, o teor exageradamente liberal do mercado,  contribui para que este mercado cresça cada vez mais, com suas soluções de eficácia bastante questionável.

Não há preocupações com os efeitos iatrogênicos que estas substâncias podem gerar e isto é algo que deve ser observado com mais responsabilidade por todos nós que inescapavelmente, adentramos o campo educativo.

A medicalização é um sintoma da contemporaneidade, dominado por um discurso cientificista que impera em grande parte das relações humanas. Nossos votos narcísicos de fazer da criança um clone, contribuem para este estrondo medicamentoso, onde muitas vezes a frustração cega os pais e dá vida às pílulas. Não nos esqueçamos de que as relações, seus desdobramentos e vicissitudes, se dão através da palavra, e com isso, podemos afirmar que a criança é um sintoma dos pais.

Ao adentrar o campo educativo, devemos estar preparados para os entorses dessa dinâmica e saber que os resultados atingidos estarão sempre aquém daqueles idealizados no ponto de partida. Ou seja, a criança nunca será um clone, pois esta, como todos nós, fará o mundo à sua própria imagem, e carregará consigo, assim como diz no poema de Drummond[1] , as suas meias verdades.

O entorpecer da medicalização, insere a criança num vazio onde deveria estar a palavra, ferramenta educativa por excelência. Sem a palavra, não se formam as coordenadas necessárias para que a criança percorra seu sinuoso e singular processo de subjetivação.

A medicalização, nada mais é do que a renúncia dos adultos  ao ato de educar, gerando assim, simultaneamente, uma forma de infanticídio, onde os indivíduos, principalmente da área médica, com seu discurso fétido e cientificista, se escondem atrás de uma proliferação injustificável de patologias psicológicas para que possam mamar das tetas monetariamente resplandecentes de uma indústria porca e sádica.

Afinal, estamos mesmo, próximos do dia em que o pó e plástico substituirão a palavra?






[1] Poema Verdade de Carlos Drummond de Andrade

sábado, 23 de novembro de 2013

Assim caminha a humanidade

É mais que evidente, o fato de que nos dias de hoje, o homem está em seu estágio mais elevado no que diz respeito à aquisição de conhecimento e o domínio dos recursos da natureza, o que o proporciona uma série de possibilidades de atuação no mundo em que habita. Acredito que este ainda não é o momento par discutirmos os prós e contras dessa intensa atuação. O fato é que, a produção do conhecimento ocorre porque as coisas aparecem para o homem e ser o ser no mundo com os outros é o que permite as vicissitudes dessa dinâmica.

Diante de tanta produção, diante de tantas respostas solúveis, as perguntas perpetuam e instigam o humano que está sempre caminhando em busca de uma suposta verdade.

Ousadia eu diria, o atrevimento da metafísica de endeusar as verdades, prendendo-se ao unânime, explicitando o conhecimento e não permitindo que o ciclo tortuoso e fundamental do homem, transcorra livremente.
Como já disse Voltolini em Educação e Psicanálise:  “ ....toda visão de mundo é datada e morre em prol de outra que se instala sob o signo de sua crítica...”

Anárquica, a fenomenologia assume a tenuidade das verdades e de forma singular, permite ao homem, atuar em um método de conhecimento sobre sua própria existência.
E assim, desvelando e ocultando o que é produzido empiricamente, o conhecimento tácito se apresenta como o devir que conduz a humanidade.

O conhecimento produz um bombardeio de informações, respostas, teorias e dizeres persuasivos, até mesmo intimidadores. Porém, sempre há espaço para a propriedade, que mesmo sendo frágil, se introduz em meio ao que já está posto, podendo assim, ressignificar as experiências e produzir novas direções à serem percorridas.
Esse movimento, é o responsável pela produção da identidade , a constante imersão e submersão entre propriedade e impropriedade.

Podemos dizer que é inegável a íntima ligação que o sentido possui com a ação, uma vez que este é o fator primordial para que haja o rompimento com a biografia (algo já dado), para que então tenha-se novas significações, experiências e possibilidades de atuação e produção de conhecimento.

Os gritos do conhecimento tácito, silenciam o conhecimento explícito, mesmo que momentaneamente.


E é necessário que seja assim.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Dos abalos temporais


Poesias rabiscadas, trituradas na mente
Que saem da alma e riscam o mundo
Dizeres calados em folhas amassadas
Que enobrecem a lata do lixo

Pessoas que por mais variadas 
Repetem-se no vácuo pútrido das trivialidades
As línguas vencem os dentes
E a sépia pinta os dias

Sentado em pombas mortas
Num mar de repetições
Contemplar a fragilidade
Não mais atinge o querer

E por mais que se saiba não ser dono de si mesmo
Vale debruçar-se por só mais uma valsa
E por mais que a música atordoe em sua dissonância
Vale atirar-se à dança dos nossos dias

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Identidade


E é em você que eu me vejo
No reflexo do meu pulsar
Que te quer em mim
Sendo eu e você mais que um só

Sou aquilo que repito
Sou palavra da tua boca
E olhar do teu querer
Eu me escondo na tua morada

Que é coração meu
E a tua dor eu é que sinto
E o teu sentir eu é que projeto
Sou mais que refrão de teus lábios

E amo-te nas partes de mim que carregas
Repito-me em teu ser
Na poça que inclino o fervor de uma face
És terna regalia do meu desejo


sábado, 21 de setembro de 2013

Educação para a realidade do desejo



Todo aquele que se aventurar no campo educativo, terá que se confrontar, mais cedo ou mais tarde, com a decepção

A educação diz respeito à vida cotidiana das crianças para com os adultos. Diante disso, é impossível que não sejam estabelecidas relações ambivalentes na transitoriedade da criança, que tem seu corpo como alvo das expectativas, medos e frustrações do adulto, que por sua vez está em constante projeção profilática.
Ou seja, a criança deve caminhar pelo mesmo deserto escaldante no qual esteve o adulto, porém , com uma peneira às mãos.
Partindo destas insolúveis dualidades, podemos começar a compreender a dependência evidente do seio da vida, onde a morte opera cautelosamente, aniquilando as possibilidades de uma vida harmoniosa, o que acarreta ao homem,  um constante  desarranjo  consigo mesmo. A todo momento nos depararemos como estando meio fora de foco e reféns das mutações do desejo.
Sendo ser da falta, o humano busca por meio de diversos mecanismos, suturar este corte que é sua essência psicológica, e o faz vulnerável no campo da palavra e da linguagem.
Essa fragilidade é o que irá conduzir a educar, visto que a palavra é a ferramenta educativa por excelência, transmitindo à criança, marcas simbólicas que a possibilitam construir e ocupar um lugar numa história e assim poder se lançar às vicissitudes do desejo.

Porém, a dinâmica entre o educar e o educando, exige um constante jogo de cintura, é preciso estar ciente de que toda visão de mundo é datada, e morre em prol de outra que se instala sob o signo de sua crítica. Assim como acontece com o desejo e o que torna o efeito da palavra que um (educador) dispara sobre o outro, (educando) dependente do sentido estabelecido pelo outro. Assim, não existe caminho a ser traçado, deve-se caminhar, não rumo à uma realidade socialmente estabelecida, mas sim, para a realidade do desejo.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Do prazer imutável





E é no doce desse fruto que se rasga o desejo
Que se atrai íntima e infinitamente
Insolúvel, enlouquece em corpo e mente
Sublimado, áspero, seco e inerente

É Deus da própria  seara
Inunda em beijos, abraços, plenos atritos
Imunda em saudade, vontade e se perde na falta
Na simbiose que entrelaça os quereres

Respirações ofegantes em plena cadência
Roupas ausentes, corpos ardentes
E é no doce desse fruto que os lábios se deitam

Regido em placidez  derivada
Do ápice dos prazeres , dos sonhos mais que palpáveis
Que dançam  a todo instante, além da subversão 

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Educação para quem?


O desejo é o desejo do outro e a educação é um caminho de sublimação das pulsões sexuais, onde estas são direcionadas para um alvo não-sexual, afim de camuflar a neurose  através de objetos socialmente valorizados.
Logo, o transcorrer dessa dinâmica diz respeito ao cotidiano das crianças e as relações que são estabelecidas com os adultos que as cercam. Mais que isso, diz respeito aos sonhos, medos, esperanças e expectativas relativos ao mundo do amanhã.
A realização do desejo recalcado pelo adulto é transferida para o sonho que ele mesmo semeia na criança. Daí, podem derivar as frustrações causadas pela exigência do laço social.  A criança é alienada dos próprios temores, e dessa forma se torna presa fácil para as peripécias do adulto, que utiliza da escola, como um objeto de terceirização dos bons costumes. No mesmo momento em que esta função é atribuída à escola, torna-se impossível para este mesmo adulto, sustentar o fato de que é evidente a impotência, insuficiência e inoperância da função de sua função no âmbito familiar.
Assim, podemos começar a compreender o mecanismo que conduz a busca pelo conhecimento, que se olhado de uma maneira mais incisiva, se mostra como o fruto de um fracasso constante e gradativo, que tenta emergir como pulsão satisfeita no desejo do outro para com o outro.

sábado, 10 de agosto de 2013

Nos vestígios do estágio do espelho


O desejo é o desejo do outro, e não há dúvida de que inicialmente, a pulsão banhada pelo amor, gera um apetite voraz, movido pelo fantasma que atiça a busca do prazer.
Uma vez que o fantasma é idealizado à própria imagem do ser desejante, novamente se faz claro que o homem segue guiado com os olhos tapados pelas palmas de Narciso. Porém, há de se  ressaltar que a fantasia, por mais envolvente e sedutora que seja, carece da textura que só pode ser sentida na realidade. Na ausência dos próprios olhos assim como Édipo, o homem só percebe o que é capaz de tocar e dessa forma, é alienado pelo outro, numa realidade que está apenas dentro de si mesmo. E um dos frutos dessa dinâmica é a frustração, válvula profana que impulsiona a neurose, transferindo para  objeto de desejo, a raiva que o indivíduo sente de si mesmo por não ter sido desejado pelo outro.
Ao desnutrir-se, a pulsão de vida transforma-se em pulsão de morte, numa ferida incurável, que projeta no outro, uma paixão reflexa e turva, mãe do prazer e filha da dor.

sábado, 3 de agosto de 2013

A Religião nos limites da pulsão




O desejo é o desejo do outro, e desde muito cedo essa máxima governa a existência humana. Assumir o processo da castração e dar conta dos resultados que provém deste fenômeno é uma tarefa de extrema exigência e complexidade para o homem, que utiliza de diversos mecanismos para negar essa dinâmica sádica e eterna. Coloco a religião como um processo inconsciente de conformidade e narcisismo, onde o homem é chamado à relação com Deus, numa atitude de abandono que supõe a aceitação de seu limite. Quando Jesus é pregado na cruz forma-se uma relação diretamente proporcional com o bebê que perde a majestade através da dissolução do desejo materno. Pai, por que me abandonaste? Estes movimentos, dão ação à abertura do amor divino, que transforma a morte em vida, quando o homem é conduzido à satisfação de desejos por meio das pulsões, da mesma maneira que a paixão de Cristo salva a humanidade num ideal de plenitude amorosa em que se faz evidente a presença do narcisismo, ao passo que este ser onipresente deseja todo e qualquer indivíduo com o mesmo fervor e intensidade, fazendo com que a falsa sensação de plenitude, disfarce a falta que se manifestará em diversos outros momentos.Da mesma maneira que as desventuras correntes da vida humana são negadas no manto do plano de Deus. Assim, a religião acaba por ser uma maneira pela qual o homem procura mediar suas angústias.


segunda-feira, 22 de julho de 2013

De você e de mim


Basta um toque para que meu corpo fique enlouquecido
Um cheiro para que se inflame minha volúpia
E neste momento desperta-se a mais intensa pulsão
Que é muito mais que prazer

Que me laça, me envolve e anoitece a minha dor
Em tom de calmaria as almas se unem por quase um instante
Quando meus lábios deslizam pelo céu da tua carne
Aos poucos a tormenta se desfaz

E desfruto do doce sabor
Destes sonhos agora passíveis de toda caricia
Desta entrega complacente, terna
Maviosamente intensa

E estes beijos, nem sei onde me levam
E minhas vestes deixo que se rasguem
Nos teus braços que me acolhem por completo
Percorro o caminho que pra sempre será

Muito mais que cumplicidade extrema
O que o tempo não conta
Fiel morada do meu desejo

sábado, 20 de julho de 2013

Pretensão à Psicanálise


O desejo é o desejo do outro e a psicanálise rompe com o habitual, se aventurando em suas tentativas de desvelar o que é reprimido pelo ser desejante. Pois todos somos sujeitos da falta e negamos boa parte dessa ausência que se faz tão presente. Ninguém escapa da condição sedutora dos cuidados maternos, do ser que alimenta, aconchega e dá prazer à seu objeto de plenitude sexual. E no movimento gradativo da castração a majestade perde o trono, dissolvendo-se o desejo e potencializando a rivalidade, a percepção se alterna, os conflitos se fazem presentes e as pulsões tomam novos sentidos. Guiando o inconsciente, Narciso caminha na busca de novos objetos que satisfaçam o desejo deste saber não sabido, que por sua vez, advém do objeto inicial, onde havia a plenitude.

Inúmeras direções à perverter uma existência não tão própria quanto se pensava, e assim, pode-se transpor a barreira imposta pela censura. O desejo toma contato com o fantasma, alvo de sua pulsão, nas lacunas da palavra, que permitem sentido ao absurdo. Na transcrição deste discurso rico, a sobredeterminação empilha as peças que constroem a figura da neurose, que aparece de uma maneira deformada, assim como Narciso aparece no reflexo das águas. E nos apaixonamos pelo ser que representa nós mesmos, que é igual ao ser para quem somos objeto de paixão, somos Eros e somos Tanatos, somos feridas com cicatrizes sempre abertas, e mais que desejo, somos a falta daquilo que nunca tivemos, e talvez nunca tenhamos por completo.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

A gente muda o mundo na mudança da mente


Quem planta injustiça, colhe revolução! E Marx estava certo, quando dizia que a revolução é a locomotiva da história, e que linda é essa locomotiva que se espalha pelo Brasil, avante, por passos pacíficos, o povo meteu o pé na porta, deu a cara à tapa, à bala, à bomba e sem levantar bandeira, porque neste momento a bandeira é o próprio povo e a causa, em sua singularidade, é plural! Brecht pulou em meio à multidão, pois naquele momento não havia sequer um analfabeto político. Não mais sorrisos podres e tapinha nas costas!
E pela primeira vez, pude ver que o orgulho em ser brasileiro não estava nem na bola, e nem na bunda, o pão estava amargo e não havia circo, porque os palhaços estavam morrendo de medo enquanto a multidão contagiante, mostrava ao mundo quem são os verdadeiros protagonistas desta história.
Corrupção já virou clichê, mas “o povo acordou” e veio junto, a hora de por um fim a este atentado vivo à humanidade. E com uma população não mais latente, surge o movimento, a co responsabilidade, a fuga da comodidade alienante que tanto cuspiu na nossa cara, a mudança tão necessária para a efetividade do bem comum.

Contra a massa selvagem, a repressão reprime, contra a massa pacífica, a repressão se esquiva. E é só o começo...

domingo, 16 de junho de 2013

Dos belos propósitos




Talvez eu esteja enjaulado por direções que me fogem
Inerte, os olhos de um corpo contrário miram o branco dos horizontes
E entre uma música e outra, entre uma arte e outra, falsamente se adoça a alma
Açoitada pela própria conformidade

E nessa dança fria que se nega a cada instante
As emoções são incapazes de denunciar
O que transcorre nesse corpo que é mais que melancolia
E derrama no desejo que é mais que alusivo

Em ansiedade se desloca o deleite
Resiste, se defende, se alucina e se cobre de saudade
E se sustenta por um amor, que mais que conforta
É mais que carícia e divina pureza

É estado de realização onde se rasga toda a angústia
Necessidade explícita e mais que vital
Espelho regado de plenitude e paixão
É delírio, presente, sincero e total