O desejo é o
desejo do outro e a psicanálise rompe com o habitual, se aventurando em suas
tentativas de desvelar o que é reprimido pelo ser desejante. Pois todos somos
sujeitos da falta e negamos boa parte dessa ausência que se faz tão presente.
Ninguém escapa da condição sedutora dos cuidados maternos, do ser que alimenta,
aconchega e dá prazer à seu objeto de plenitude sexual. E no movimento
gradativo da castração a majestade perde o trono, dissolvendo-se o desejo e
potencializando a rivalidade, a percepção se alterna, os conflitos se fazem
presentes e as pulsões tomam novos sentidos. Guiando o inconsciente, Narciso
caminha na busca de novos objetos que satisfaçam o desejo deste saber não
sabido, que por sua vez, advém do objeto inicial, onde havia a plenitude.
Inúmeras
direções à perverter uma existência não tão própria quanto se pensava, e assim,
pode-se transpor a barreira imposta pela censura. O desejo toma contato com o
fantasma, alvo de sua pulsão, nas lacunas da palavra, que permitem sentido ao
absurdo. Na transcrição deste discurso rico, a sobredeterminação empilha as
peças que constroem a figura da neurose, que aparece de uma maneira deformada,
assim como Narciso aparece no reflexo das águas. E nos apaixonamos pelo ser que
representa nós mesmos, que é igual ao ser para quem somos objeto de paixão,
somos Eros e somos Tanatos, somos feridas com cicatrizes sempre abertas, e mais
que desejo, somos a falta daquilo que nunca tivemos, e talvez nunca tenhamos
por completo.
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