É notório, o despudorado objetivo
da indústria farmacêutica em propagar a utilização em massa dos psicofármacos.
Com propagandas atrativas e uma sociedade que cada vez mais, exige soluções
rápidas, o teor exageradamente liberal do mercado, contribui para que este mercado cresça
cada vez mais, com suas soluções de eficácia bastante questionável.
Não há preocupações com os
efeitos iatrogênicos que estas substâncias podem gerar e isto é algo que deve
ser observado com mais responsabilidade por todos nós que inescapavelmente,
adentramos o campo educativo.
A medicalização é um sintoma da
contemporaneidade, dominado por um discurso cientificista que impera em grande
parte das relações humanas. Nossos votos narcísicos de fazer da criança um
clone, contribuem para este estrondo medicamentoso, onde muitas vezes a
frustração cega os pais e dá vida às pílulas. Não nos esqueçamos de que as
relações, seus desdobramentos e vicissitudes, se dão através da palavra, e com
isso, podemos afirmar que a criança é um sintoma dos pais.
Ao adentrar o campo educativo,
devemos estar preparados para os entorses dessa dinâmica e saber que os
resultados atingidos estarão sempre aquém daqueles idealizados no ponto de
partida. Ou seja, a criança nunca será um clone, pois esta, como todos nós,
fará o mundo à sua própria imagem, e carregará consigo, assim como diz no poema
de Drummond[1] ,
as suas meias verdades.
O entorpecer da medicalização,
insere a criança num vazio onde deveria estar a palavra, ferramenta educativa
por excelência. Sem a palavra, não se formam as coordenadas necessárias para
que a criança percorra seu sinuoso e singular processo de subjetivação.
A medicalização, nada mais é do
que a renúncia dos adultos ao ato de
educar, gerando assim, simultaneamente, uma forma de infanticídio, onde os
indivíduos, principalmente da área médica, com seu discurso fétido e
cientificista, se escondem atrás de uma proliferação injustificável de
patologias psicológicas para que possam mamar das tetas monetariamente
resplandecentes de uma indústria porca e sádica.
Afinal, estamos mesmo, próximos
do dia em que o pó e plástico substituirão a palavra?